terça-feira, 21 de setembro de 2010

Da cidadania e da acessibilidade

Tenho reiteradamente discutido sobre a cidadania aqui neste Blog mais com ênfase nos DEVERES do cidadão para consigo mesmo e para com os seus concidadãos, do que em relação aos seus DIREITOS. Isto por que, se observado o nosso cotidiano, iremos constatar que o desrespeito aos nossos DIREITOS está intimamente ligado a inobservância dos DEVERES para com nós mesmos, cidadãos.
Portanto, neste artigo, a nossa proposta é chamar a atenção e dar um exemplo positivo do como podemos zelar mutuamente pelos nossos próprios direitos, a partir do exercício de nossos próprios deveres, como certamente queria nos chamar a atenção o famoso poeta Fernando Pessoa, quando proferiu este pensamento:
“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio têm qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”.
Uma renovada experiência, de ser pai pela segunda vez, chamou-me a atenção para um aspecto do nosso cotidiano que literalmente “passamos por cima” todos os dias sem que, sequer, ele nos chame a atenção para algo que afronta diretamente um dos direitos universais do ser cidadão, que é o direito de ir e vir. Pois, intrinsecamente está ligado a este direito algo que só se tornou mais comum “aos nossos ouvidos” muito recentemente e ficou conhecido como "acessibilidade".
Ainda que este seja um tema cuja atenção é recente em nossa sociedade brasileira, por isso mesmo há de se ressaltar que, a experiência de sensibilização que irei lhes relatar a seguir, aconteceu mesmo morando em uma das mais jovens cidades do DF, a cidade satélite de Águas Claras. Foi neste último ano e meio no qual tenho precisado utilizar o carrinho de bebê para deslocar-me em trajetos curtos com o meu filho caçula e, na vizinhança da cidade onde moro, mesmo assim passei a “sentir na pele” este que é um dos principais problemas enfrentados pelos cadeirantes e, de forma mais ampla, por todos os portadores de necessidades especiais cujo número, somente aqui no DF, chega a cerca de 170 mil habitantes, conforme me informou recentemente a amiga e colega Bárbara Barbosa, cujo trabalho voluntário é voltado principalmente para os deficientes auditivos aqui no Distrito Federal.
A inexistência de calçadas em muitos trechos de nossa cidade ou, quando existentes, calçadas irregulares ou mesmo cheias de buracos são verdadeiras armadilhas para todos nós e para qualquer cidadão, seja ele portador ou não de necessidades especiais. Isto sem contar a ausência das rampas entre o nível das calçadas e nível das ruas e avenidas que dificultam o acesso principalmente aos cadeirantes.
Entretanto, como foi dito acima, tal "insensibilidade" não diz respeito, apenas, às nossas autoridades públicas e às construtoras, mas também e, principalmente, a nós mesmos, cidadãos que não exigimos tais equipamento públicos diretamente dos nossos "fornecedores" desde o momento nos quais adquirimos os nossos imóveis e continuamos a não fazê-lo em relação aos nossos síndicos e administradores.
Diria que esta questão da acessibilidade é uma das provas de inequívoca insensibilidade quanto a uma das questões básicas que afetam ao cidadão, principalmente daqueles que são portadores de necessidades especiais, pois, se não temos estas que afetam a capacidade de locomoção do indivíduo, ou tampouco convivemos com pessoas que as tem, então, sequer conseguimos observar a baixa acessibilidade em nossas cidades nas quais vivemos e, se não somos sensíveis, também não cumprimos o nosso dever de AGIR a este respeito.
Comecei aqui ressaltando que este Blog se propõe a debater mais os DEVERES e é neste sentido que proponho AGIRMOS. Pois, se não houver ação do cidadão quanto à acessibilidade em nossos condomínios e nossas cidades, também continuarão insensíveis os nossos síndicos e administradores, pois, estes são apenas reflexos da qualidade da nossa cidadania.
Agir? Sim, conforme recomendou o Fernando Pessoa. Lhes darei aqui um bom exemplo próximo a este tema de como e de que vale à pena ter uma ”atitude Fernando Pessoa” como a da Bárbara Barbosa, citada acima, quando ela pleiteou a toda poderosa produtora americana Fox Filmes que incluísse nas cópias do um filme brasileiro intitulado: “Nosso Lar”, que já se mostra o mais novo sucesso de bilheteria do país, legendas em português para que os deficientes auditivos também possam assisti-lo no cinemas. A Bárbara BArbosa também mobilizou e incitou os seus concidadãos a escreverem para a Fox, reforçando seu pedido. Resultado? A Bárbara recebeu uma resposta positiva do representante da Fox Filmes aqui no Brasil e uma cópia editada com o apoio do grupo de apoio a deficientes ao qual a Bárbara faz parte já esta em exbibição na grande SP e em breve também será exibido emoutras cidades do país nas quais os movimentos sociais se mobilizarem, como já aconteceu também no DF.
Entretanto, se perderá “a pedra fundamental do castelo” que a Bárbara Barbosa está se mobilizando para edificar aqui no DF se ela não conseguir ajuda multiplicando a informação sobre as sessões especiais legendadas em português do filme Nosso Lar, que a Fox Filmes estará exibindo, em breve, também na Capital Federal. Todos nós podemos contribuir com oesforço da Bárbara Barbosa multiplicando esta corrente principalmente, mas não somente, junto aos portadores de deficiência auditiva e seus familiares, pois, assim eles poderão dar a audiência esperada pela Fox e, assim, poderemos tornar uma rotina a existência de cópias des filmes que estejam também atentos para esta "necessidade social". E então?!? Que tal exercitar o nosso AGIR e também aprender com a Bárbara ajudando-a? Vamos lá?

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