quinta-feira, 31 de março de 2011

Da Cidadania e do BOPE

Carta ao meu irmão caçula, o mais novo PM da Bahia!‏*
*Decidi transformar esta que era para ser apenas uma “carta em família” em uma “carta aberta”, por intermédio deste Blog Cidadão Candango, pois, acredito que compartilhá-la será a melhor maneira de ajudar ao meu querido irmão caçula e aos seus colegas de farda a transformarem em realidade o meu desejo, expressado a ele ao final desta carta.
“Meu irmãozinho,

Quando falamos hoje ao telefone, comecei lhe perguntando se era verdade que o mesmo blindado que ficou famoso no RJ com o nome de "Caveirão" havia sido rebatizado ai na Bahia de "Miseravão", bem ao estilo baiano de levar sempre a vida numa boa, porém, sem deixá-la de levar a sério. É como diz a frase atribuida ao Tchê Guevara: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás."


Se for verdade que o rebatismo do “Caveirão” para “Miseravão” tem haver com este que é o nosso espírito de baiano, vou então começar novamente falando do "Miseravão", para sugerir que sigamos nesta mesma nova linha e não só seja mudado o nome, deixando-o mais divertido, sem deixar de impor o respeito desejado, da mesma forma que o fazemos quando apelidamos os nossos MELHORES professores na escola e na faculdade com esta mesma alcunha por mera rotulação quanto a dureza com a qual nos chama à nossa própria responsabilidade, para só depois descobrirmos qual foi o real valor deles, após nos formarmos. Sendo assim, vamos mudar também a insígnia, mantendo-a no mesmo espírito do “Miseravão”. Vou propor aqui a minha sugestão de usar a que está ilustrando este post aqui no Blog. Afinal, é como questiona o personagem de Tropa de Elite II, com relação a caveira do BOPE do RJ: "Uma polícia cujo símbolo é a morte?"


Entretanto, na realidade te escrevi aqui [em família, por isto copiei sua conselheira mais próxima ai na Bahia e também a minha conselheira mais próxima aqui, que me pediu que não deixasse de "estar próximo" a você, seu "irmão mais velho"] para continuarmos a conversa que começamos ao telefone, quando você me falou da sua indignação quanto à, logo após ter colegas policiais mortos e outro na UTI por ação de criminosos, terem outro colega sendo processado por ter abordado aos palavrões alguém que ele reconheceu como sendo um daqueles delinqüentes que, apesar de ainda não ter ficha na polícia, vocês já sabem que andam aprontando. Estes aos quais vocês classificam como: "tiro surdo".


Quando nos despedimos ao telefone, fui honesto com você e comigo mesmo quanto a minha opinião a respeito da atitude deste seu colega e lhe disse que também faria o mesmo, se fosse o pai deste suposto "tiro surdo" - e é possível que este tivesse o mesmo nome de um de meus filhos, ou do teu e que e que aquele fosse um policial que atendesse pelo seu mesmo nome- e o abordassem de uma forma incompatível com a que merece ser abordado um "Cidadão Brasileiro", cujos direitos e deveres você aprendeu quais são, em seu curso preparatório da Academia de Polícia. Aliás, o que você e seus colegas são, antes mesmos de serem policiais.


Contudo, você pode fazer uma história de policial MUITO diferente desta, e diferente também daquela que te contei ao telefone em relação ao meu ex-colega de faculdade, cujo espírito brincalhão lhe disse que é muito parecido com o seu e que também se tornou um policial há alguns anos atrás, mas que, no entanto, foi se degenerando e acabou tendo que recomeçar de um ponto muito anterior ao que havia começado.


Pode ser também diferente desta história do seu colega que esta sendo processado por injúria, dentre outras ofensas que fez ao "tiro surdo", eu prefiro chama-lo de cidadão. Aliás, também este seu colega de farda pode escolher entre DUAS diferentes formas de utilizar esta experiência pela qual está passando: UMA delas só deixará em uma situação ainda pior no futuro, pois poderá ser um reincidente, se resolver descontar a revolta dele com este processo em outros "tiros surdos", o que também poderá levá-lo a ser expulso da PM e até vir amargar uma pena ainda mais severa. Neste caso, ele é que será pior do que os "tiros surdo", pois, se estes não têm sequer uma ficha na polícia, a dele poderá, além de existir, ainda ser uma FICHA SUJA, como classificam a alguns políticos em Brasília.



Você acha que o juiz que irá julgar a este seu colega deve inocentá-lo? Justamente porque seu colega não fez nada de mais além do que ofender alguém que ele sabia ser um DELIQUENTE??? Pois bem, se seu colega for assim inocentado, agora que ele também DELINQUIU, mesmo se não ficar com uma "ficha suja" na polícia, ele será o que você mesmo aprendeu ai com os seus colegas, ou seja, um TIRO SURDO. Não é verdade? Neste caso, se valer a regra de que delinqüentes (tiro surdos) pode ser humilhado com palavrões e agressões físicas, ainda que supostamente leves, será que o "tiro surdo" ao qual ele injuriou terá também terá o direito de fazer o mesmo ou pior com este seu colega, já que este é que terá a verdadeira FICHA SUJA???



Meu irmão, não quero aqui ficar dando lição de moral a você e nem a ninguém, ao contrário, quero é fazer aqui minha própria MEA CULPA: "Pequei Senhor, mais aprendi com o meu erro e quero ser perdoado." Pois, pelo que você mesmo me definiu como sendo um "tiro surdo", acabo de descobrir que, provavelmente, aos 42 de idade eu mesmo não escaparia de alguma delinqüência de minha parte que não pudesse me fazer merecer ser também classificado do que vocês chamam de "tiro surdos", pois, penso que certos atos praticados ainda na adolescência, ainda que muitos o perdoassem por considerar que tem haver com a história de todo menino de origem humilde, filho de pais pobres mais muito honrados, poderiam também me classificar como um: “tiro surdo”.



Entretanto, meu irmão, Deus nos deu o livre arbítrio justamente para sabermos que temos escolha, mesmo já tendo “pecado”, ou melhor, mesmo sendo um "tiro surdo", o Senhor nos ensinou que são os pecadores justamente os que precisam mais do Seu perdão [leia a parábola do 'Filho Pródigo' no Evangelho (Lucas 15, 11-32). Aliás, por falar em Evangelho, tem outra citação bíblica que é mais conhecida e que é atribuída ao próprio Jesus, quando todos estavam prontos para apedrejar a Maria Madalena, que diz mais ou menos assim: "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra".


Voltando ao caso deste seu colega, esta experiência poderá também servir para ele refletir sobre as RAZÕES que o levaram até este momento e, daqui por diante, terá o direito que foi concedido a ele divinamente, o do "livre arbítrio" e, assim como você também meu irmão, poderá escolher como tratar o próximo "tiro surdo", por mais delinqüente que for, como o seu colega o tratou antes ou, da mesma forma que faria um pai com o seu filho também delinqüente [como lhe perguntei quanto ao seu tratamento com o seu filho, após ter aprontado horrores].

Por detrás destes "próximos tiros-surdos", que também atendem por nomes iguais aos de nossos próprios filhos, existem pais iguais a nós que, mesmo tendo sido ou não "tiros surdos da vida", mas, sendo hoje pais de famílias honrados e não concordando que seus filhos cometam os mesmos erros que eles cometeram na juventude, querem que estes seus filhos sejam tratados com o respeito que merece CADA SER HUMANO quanto a sua própria dignidade pessoal e que, ainda merecendo uma "pena", após paga sua penitência seus "pecados sejam perdoados” e que eles possam ter a mesma chance que seus pais tiveram, de tornarem-se os homens dignos como hoje são vistos muitos dos antigos "tiros surdos". Não é verdade, irmão?



Aliás, sabe este meu ex-colega de faculdade, o que formou-se comigo e logo depois tornou-se também policial, mas que acabou sendo expulso e preso por ter cometido um crime capital? Pois é, ele teve muito tempo para refletir sobre as razões que o levaram até aquele momento na cadeia. E sabe o que ele decidiu, após dissipar toda a raiva, angústia, revolta e tudo o mais de ruim que ele pudesse ter no coração? Decidiu aproveitar o que ele mais tinha de sobra naquele momento, TEMPO, e dedicou-se aos estudos de Veterinária que ele já vinha cursando antes de ser preso e também aos de Medicina, de forma mais ampla, pois, como te disse, ele já era craque em Biologia desde os tempos que estudávamos juntos outro curso.



Disse também a você no telefone que fazia tempos que não tinha notícia deste meu ex-colega de faculdade, de quem eu gostava muito como pessoa e isto não mudou após ele ter cometido o "pecado dele". Mas, se não me engano, ele já se formou também em Veterinária pela Federal da Bahia, que era o sonho da juventude dele. Pois é, sabe o que eu acho mesmo??? Que a esta altura, ele já salvou MUITO mais vidas do que “aquela” que ele concorreu para tirar, desde aquele fatídico dia que mudou a vida dele, PARA SEMPRE! Mas, é como diziam os nossos pais, lembra? “Deus escreve certo por linhas tortas!”


Contudo, quero repetir para você também um pensamento que tenho repetido milhares de vezes a outros interlocutores e que a minha memória insiste em atribuir a um poeta espanhol: “Tenho que aprender TAMBÉM com o erro dos outros, mesmo porque, não viveria tempo suficiente para cometê-los [EU MESMO] todos, sozinho.”
Moral da história??? Quero ser reconhecido como o irmão do PM baiano mais educado do Brasil, nas abordagens aos CIDADÃOS baianos, mas que também, nem por isto, deixará de ser reconhecido como um policial eficiente, a exemplo do policial inglês, que nem arma letal utiliza no policiamento ostensivo.
Esta escolha só depende DE VOCÊ meu irmãozinho, é o seu LIVRE ARBÍTRIO, um DIREITO DIVINO, mais do que Direito Positivo, que é aquele escrito pelos homens . Aliás, também lhe falei a respeito das "más influências" que existem em todos os meios nos quais vivemos [olha eu aqui em Brasília, afff Maria!!!]. Porque então não ser VOCÊ a BOA?!? Mas, não como a Juliana Paes e a ANTARCTICA. Claro! (risos). Pois, ia pegar muito mal pra eu ser reconhecido como o irmão do PM baiano que é a alegria na caserna do batalhão inteiro. Estou me referindo a ser a BOA INFLUÊNCIA, a começar ajudando a este seu colega de farda que esta sendo processado por injúria, se este lhe for acessível, é claro, a escolher um caminho que tenha mais garantias de um FINAL FELIZ para ele.
Quem sabe você não poderia começar falando a respeito desta nossa conversa, aqui. O que acha? Mas, vai com cuidado e seja discreto, pois, você é ainda um calouro ai e as grandes mudanças não acontecem da noite para o dia, nem mesmo na sua cabeça e tampouco na dele, nem na de ninguém. Ok? Deus te abençoe em sua nova jornada e... Keep walking!"

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