domingo, 25 de dezembro de 2011

APERTEM O CINTO, em 2012... O ETHANOL SUMIU!


Preparem-se, pois, a partir de 1º de janeiro de 2012 os EUA não mais cobrará sobretaxa para os consumidores domésticos sobre o Ethanol brasileiro importado para lá. O congresso norte-americano entrou em recesso sem renovar a sobretaxa cuja vigência expira em 31 de dezembro de 2011. Boa notícia para os exportadores brasileiros, porém, nem tanto para nósconsumidores brasileiros, pois, atualmente NAO HÁ EXCEDENTE EXPORTÁVEL. Em 2011, já pagamos o preço disto tanto no Ethanol (Álcool Hidratado) quanto na gasolina (misturada ao Álcool Anidro), devido a insuficiência da produção nacional de Ethanol, que não deveu-se apenas a entre safra, ao crescimento da demanda acima da oferta e aos fatores climáticos, mais também a exportação do Ethanol brasileiro para os EUA, mesmo sem excedentes exportáveis e mesmo com a sobre taxa norte-americana, concorrendo com a demanda nacional brasileira. Em 2012, haverá saída a concorrência dos consumidores norte-americanos senão o "gerenciamento" da exportação deste combustível?

JUSTIÇA PARA QUEM PRECISA DE JUSTIÇA?!?


MANIFESTO PRO MORALIDADE NO JUDICIARIO: VIVA ELIANA CALMON! Precisamos apoiar a JUIZA CORREGEDORA ELIANA CALMON contra a inversão de valores patrocinada pela AJUFE, AMJ e suas congêneres, que pretendem transformar em réu aquela que está pretendendo tirar os bandidos de debaixo de togas.

domingo, 17 de abril de 2011

Da cidadania, do Bulling e do “Pânico em Realengo”

Em 1996 o filme dirigido pelo diretor norte-americano Wes Craven, que ficou conhecido no Brasil sob o título: “Pânico”, combinou o que seria uma típica história do gênero “Suspense”, com cenas do gênero Terror, porém, dando aos clichês destes gêneros um tratamento dos filmes de Comédia, que por sua vez tinha também ingredientes dos filmes do gênero Policial e cujas cenas de violência explícita, com homicídios praticados das formas mais cruéis que se poderia imaginar, eram tratados como se fossem simples travessuras inocentes, praticadas por adolescentes que se conheceram na escola.

O filme “Pânico” (Scream, 1996 - EUA) tornou-se um dos mais lucrativos daquele ano e um sucesso de bilheteria de sua época, transformando-se em sucesso no mundo inteiro e desdobrando-se em 3 outros filmes que estenderam-se até o corrente ano de 2011, com “Pânico 4” (Scream 4, 2011 - EUA). Este sucesso cinematográfico mundial, principalmente junto ao público adolescente que se diverte com este “novo gênero” de filme, que é uma mistura do que conhecíamos no passado apenas e SEPARADEMANTE, por meio dos gêneros: Suspense; Terror; Drama; Comédia e Policial, tem todos os ingredientes de outra típica receita recentemente importada também dos EUA e que poderíamos facilmente identifica-la no que passamos a conhecer no Brasil com o nome Bulling.
A adoção do anglicismo Bulling por todos os principais meios de comunicação de massa nacionais, como uma nova forma de descrever o que até então conhecíamos no Brasil apenas como TROTE, se justifica principalmente por servir para diferenciar esta, que é/era um outra forma pouco ortodoxa de “dar boas vindas aos calouros”, que a maioria de nós hoje adultos supostamente responsáveis, fomos também vítimas ou algozes em nossa infância e/ou adolescência, mas, que difere em muitos dos seus principais aspectos do que hoje é classificado como Bulling, que na sua definição original é usado para descrever atos de violência física e/ou psicológica praticados de forma intencional e exercido por um indivíduo ou agente de uma ação contra outro indivíduo. Este agente da ação é chamado, na expressão em inglês, de Bully, cuja tradução para o português equivale ao que conhecemos como TIRANO, BRUTO ou, simplesmente, VELENTAO. Dai, que este novo termo, que popularizou-se recentemente no Brasil como Bulling, refere-se literalmente a ação do TIRANO, do BRUTO ou do VALENTAO. Portanto, diz respeito especificamente aos atos de praticar TIRANIA, BRUTALIDADE e/ou VALENTIA contra outrem que, na maioria das vezes, esta em desvantagem física e/ou numérica. Sendo assim, o que até então conhecíamos simplesmente como TROTE não se confunde necessariamente com o que agora é classificado como Bulling e, por isto, precisamos deixar de ser tão complacentes quanto a este.
Assim como o filme “Pânico” fez sucesso no Brasil na década de 1990 e foi “importado” para o imaginário dos jovens e adolescente brasileiros como algo que, sem maiores consequências, os estudantes americanos entendiam como sendo um simples “TROTE”, mais recentemente também importamos para o Brasil, por intermédio de nossos meios de comunicação de massa, este outro “sucesso de audiência” nos EUA que é o Bulling. Sucesso este comprovado pelas tragédias que foram batizadas pela mídia internacional e ficaram conhecidas também no mundo inteiro simplesmente por seus títulos dignos de novos sucessos de bilheteria, bem ao gosto dos americanos, tais como o “Massacre de Columbine”, acorrido no Condado de Jefferson, Estado do Colorado, no Instituto Columbine, uma escola americana de ensino equivalente as do ensino fundamental no Brasil, mas, considerada uma referência nacional naquele país em função dos altos índices de ingresso em universidades americanas, que são obtidos pelos alunos egressos de Columbine.
O Massacre de Columbine deixou 13 mortos e 24 feridos e foi praticado por dois alunos daquela mesma escola, que em 1999, ano do massacre, tinham 17 e 18 anos de idade, respectivamente. Estes jovens eram oriundos da classe média daquele país, que estudaram nesta escola também famosa pelo altos índices de atletas que formam, para os times de futebol americano. Entretanto, estes dois jovens não se enquadravam neste padrão de alunos-atletas, pois, preferiam isolar-se nos computadores ao invés de praticarem esportes como a maioria dos outros alunos de Columbine.
Segundo o apurado após aquele massacre em Columbine, foi a diferença de padrões de comportamento o motivo pelo qual os autores do massacre de Columbine eram ridicularizados pelos seus colegas que, logo após matar a tiros alunos e professores daquela escola americana, suicidaram-se, deixando junto aos seus corpos uma mensagem com os seguintes dizeres: "Não culpem a mais ninguém por nossos atos. É assim que queremos partir".
A tragédia em Columbine foi documentada pelo diretor americano Michel Moore em seu filme intitulado: “Tiros em Columbine” (Bowling for Columbine, 2003 – EUA), tendo sido premiado com o Oscar de melhor filme documentário de 2003, além de ter sido premiado no Festival de Cinema de Cannes e de ter recebido da Academia Francesa de Cinema o prêmio de melhor filme estrangeiro daquele mesmo ano.
Quais os paralelos que podemos encontrar entre a ficção do filme “Pânico”, de 1996, e o “mais novo sucesso de mídia mundial”, já batizado pela mesma com o título de: “Massacre de Realengo”? Este aconteceu aqui mesmo no Brasil, na escola de ensino fundamental Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, mas que, infelizmente, não tem nada de ficção, assim como o que aconteceu no Instituto Columbine, no Estado do Colorado, EUA.
Para tentar responder a estas perguntas, vamos tentar traçar paralelos entre a ficção retratada no filme “Pânico”, do diretor americano Wes Craven, e as realidades de 1999, retratadas em 2003 no documentário “Tiros em Columbine”, do também diretor americano Michael Moore, e a do “Massacre de Realengo”, ocorrido recentemente mas que, ainda, não ganhou as telas do cinema.
Como dito no início deste artigo, o filme “Pânico” faz um mix entre Suspense, Terror, Drama, Comédia e Policial, ao retratar da estória de dois jovens americanos aficionados por filmes de terror, moradores de uma cidade do interior do Estado americano da Califórnia, que estava aterrorizada pelos assassinatos cometidos de forma anônima e misteriosa, por estes mesmos jovens. O modus operandi dos crimes cometidos por estes jovens ficcionais, são tratados de forma a assemelhar-se com os TROTES que os jovens costumam aplicar aos seus colegas em ambientes escolares, trotes estes que, aqui no Brasil, chamamos de “PRENDA” a pena a eles atrelados, que consiste basicamente em submeter os alvos dos trotes a fazerem ou serem submetidos a uma situação que seja publicamente constrangedora. É ai que se encontra o motivo principal para a aplicação do trote, que é poder submeter a vítima do mesmo a uma situação publicamente constrangedora na qual os seus algozes e demais colegas possam rir dela também em publico. O que por si só não constitui um ato sem maiores consequências para a vítima e seus algozes. Vem desta inconsequência a razão para entendermos que o TROTE não deve ser tratado com maiores rigores pela sociedade, constituída pelos próprios pais das vítimas e dos algozes, pelos professores e pelas demais autoridades aos quais estes mesmos jovens deveriam subordinar-se.
Entretanto, nesta obra ficcional americana de 1996, o que conhecemos como trote tem mais haver com o mesmo que atualmente se define como Bulling, pois, os algozes do filme são os mesmos jovens aficionados por filmes de terror, que passam a submeter as suas vítimas a suposta “brincadeiras”, que começam com telefonemas para assustá-los com perguntas relativas a estes mesmos filmes aos quais os autores do “trote” já havia assistido. Porém, se as vítimas erravam as respostas, a “prenda” a ser paga por estas consistia em serem assassinadas da mesma forma que as vítimas dos filmes destes thrillers. Contudo, o filme Pânico retratava também as razões pelas quais os personagens centrais agiam de forma tão cruel com suas vítimas, que era o fato de uma das personagens daquele filme, vítima dos assassinos ficionais, ter tido a mãe assassinada da mesma forma pela qual eles agora reproduziam nos assassinatos de seus colegas de escola.
O poeta Oscar Wilde, irlandês do século XIX, é um dos autores famosos que ajudaram a tornar conhecido o epigrama: “A ARTE IMITA A VIDA!”, tendo escrito em uma de suas obras a frase: “A vida imita a arte mais do que a arte imita a vida!”. O personagens reais retratados no documentário de Moore, “Tiros em Columbine”, não tinham a mesma motivação do personagem ficcional do filme de Wes Craven, porém, aqueles dois jovens americanos de classe média eram vítimas do que aqui já definimos como Bowling.
O documentário de Morre, inspirado em um “drama da via real” americana, faz uma referência direta em seu o próprio título original Bowling for Columbine a este [modelo] trote americano. Os dois jovens homicidas de Columbine eram vítimas do preconceito de um modelo de sociedade americana no qual, de um lado os jovens são estimulados a se dedicar aos esportes, mesmo modelo no qual o Instituto Columbine é uma referência, fornecendo para o times americanos os atletas de um dos esportes mais apreciados na naquele país, mas que, por outro lado, também estimula um modelo competitivo no qual todos os demais jovens que não se encaixam neste estereótipo do “guerreiro americano”, que vence todos os demais com seu espírito viril e combativo, são alvo de chacotas de seus próprios colegas.
Michael Morre salienta também em seu documentário que esta mesma sociedade americana, que cultua seus personagens históricos como heróis, ressaltando este espírito combativo pelo qual estes [supostamente] conquistaram o que hoje se conhece como o american way of life, tendo como principal meio o uso da força e das armas e com isto procuram também justificar o direito de todos os americanos terem as suas próprias armas. Contudo, o próprio Moore põe em cheque tal justificativa para estes episódios de violência como o de Columbine, mostrando no mesmo documentário que o vizinho Canadá, que possui igualmente um número de armas relativamente equivalente ao encontrado junto a população americana nem por isso atinge os mesmos índices de violência envolvendo armas de fogo encontrados dentre os americanos.
O que Moore tenta chamar a atenção em seu premiado documentário é que, dentre as possíveis explicações, há um mix envolvendo questões como a da segurança social - menor do que os de outras economias tão desenvolvidas quanto a americana - que se somam a questões envolvendo o racismo, do qual é vitima a população negra dos EUA e que as instiga a uma reação violenta quanto a esta discriminação, que por sua vez se soma as demais injustiças sociais, culminando por justificar a proliferação de armas junto a população branca daquele mesmo país, desembocando numa crença cultural de que “a melhor defesa é o ataque”.
As investigações da polícia americana no caso do Massacre de Columbine apontaram, como sendo as prováveis motivações daqueles dois jovens cujos os pais se enquadravam na mais perfeita definição do que é a classe média americana (o pai de um deles era geofísico e a mãe uma especialista no tratamento de crianças com deficiências), que as gozações das quais eram alvos de seus colegas atletas, em razão daqueles se dedicarem mais aos computadores do que aos esportes, ao contrário do que era o padrão social naquela instituição americana, fazia com que estes dois jovens buscassem como refúgio na rede mundial de computadores, a Internet, onde acabaram encontrando todo o tipo de informação que os levaram a dar vazão as suas frustrações, causadas pelo Bulling do qual eram vítimas.
Foi a Internet que os dois adolescentes californianos acabaram usando como ferramenta para planejar a sua reação aos colegas que os transformaram em páreas da sociedade da qual faziam parte. Em diários que ambos escreviam, deixaram registrados seus sentimentos expressados em frases, tais como: "Eu me sinto Deus e gostaria que todos estivessem abaixo de mim", enquanto que o outro escreveu que era o próprio deus da tristeza, pensamentos estes que sugerem uma conexão lógica com as inscrições encontradas nas camisetas usadas por cada um deles, que traziam escrito na frente: “Natural Selection” e “Ira”. O estudos psiquiátricos realizados após este massacre, classificaram seus atores como: um sendo Psicopata e o outro Depressivo.
No dia seguinte ao Massacre de Realengo, o famoso jornalista brasileiro Ricardo Boechat fez um longo comentário na abertura do noticiário da BandNews FM, no qual discorreu sobre o episódio e expôs as reflexões dele a respeito das possíveis motivações do autor daquela tragédia, dado os fatos sobre a vida do mesmo já tornados públicos até aquele momento, e, ao final, concluiu que o próprio algoz era também uma das vítimas deste triste episódio da história brasileira.
Seguindo a mesma linha do Boechat na BadNews, de buscar analisar os fatos a luz das circunstâncias, a reportagem publicada no caderno “Cotidiano” do jornal Folha de São Paulo, edição do dia 16 de abril 2011, traz em destaque, no alto da página C5, que: “Bulling é o assunto central da série de gravações de atirador”. A mesma reportagem da Folha, destaca ainda um dos trechos das gravações feitas pelo próprio autor do crime praticado contra os alunos da escola fundamental, no Rio de Janeiro, no qual este desabafa: “As vezes o que mais doía era (sic) quando eles praticavam estas covardias contra mim e todos em volta riam, debochavam, se divertiam sem se importar com meus sentimentos”.
Feitas estas análises e ponderações acima, talvez aqueles que chegaram até este ponto na leitura deste texto, ainda estejam se perguntando onde o autor deste artigo pretende chegar com tal análise. A resposta a esta questão refere-se aos debates trazidos a público pelo Senado brasileiro, supostamente numa “resposta” a sociedade quanto as ações que aqueles políticos brasileiros iriam tomar para prevenir que novos massacres semelhantes voltem acontecer.
Segundo o que nos foi dado a conhecer pela imprensa nacional, a dita “resposta” do Senado brasileiro seria a convocação da população para um NOVO plebiscito sobre a mesma questão já discutida anteriormente, em outro escrutínio, no qual também já houvera um indiscutível posicionamento favorável ao não aumento das restrições ao porte de arma por cidadãos civis, questão esta igualmente tratada, posteriormente ao referido plebiscito, numa legislação especifica, que ficou conhecida como: “Estatuto do Desarmamento”.
O autor do presente texto pretende com ele chamar a atenção daqueles outros políticos brasileiros, cuja vida pregressa difere de forma significativa daqueles outros que foram anunciados, segundo a imprensa, como sendo os autores por detrás desta nova proposta de plebiscito sobre o tema desarmamento. Políticos estes cujo próprio histórico pessoal depõe contra a legitimidade deles, para tratar de questões ligadas a chamada “indústria das armas”, que envolve tantos interesses econômicos aos quais os mesmos dificilmente se oporiam, dado os seus respectivos históricos. Portanto, há de se inferir que destes últimos não se pode esperar nada mais que o interesse eleitoral, mesmo diante de um fato tão trágico como o de Realengo, enquanto que daqueles, cujo histórico pessoal está ligado diretamente ao ambiente no qual estas tragédias aconteceram, o ambiente escolar, mas que pouco destaque se viu na imprensa nacional quanto as suas propostas para tratar do tema que está diretamente ligado a motivação desta tragédia, o Bulling, que foi algo que foi “importado” de outra cultura e veio a deturpar o que era conhecido na sociedade brasileira apenas como TROTE.
A mensagem do autor da tragédia de Realengo contém um sinal de qual tema devemos tratar em uma nova legislação que tenha como inspiração o “Massacre de Realengo”, e esta deve ser dirigida para aqueles políticos ligados ao tema Educação e Ética, tais como o Senador Cristovam Buarque e o Deputado Federal Reguffe (ambos do PDT), por exemplo, considerando que estes realmente estão interessados nas questões que fazem a diferença em relação ao status quo no qual se encontram os temas relativos ao Bulling nas escolas, pois, na mesma reportagem publicada pela Folha deste último dia 15 de abril, em outro trecho transcrito das gravações feitas pelo “algoz de Realengo”, há uma referencia clara a quem este se dirigia na mensagem contida e expressada por ele mesmo na forma deste ato tão violento: “Que o ocorrido sirva de lição, principalmente as autoridades escolares, para que descruzem os braços diante das situações em que os alunos são agredidos, humilhados”.


quinta-feira, 31 de março de 2011

Da Cidadania e do BOPE

Carta ao meu irmão caçula, o mais novo PM da Bahia!‏*
*Decidi transformar esta que era para ser apenas uma “carta em família” em uma “carta aberta”, por intermédio deste Blog Cidadão Candango, pois, acredito que compartilhá-la será a melhor maneira de ajudar ao meu querido irmão caçula e aos seus colegas de farda a transformarem em realidade o meu desejo, expressado a ele ao final desta carta.
“Meu irmãozinho,

Quando falamos hoje ao telefone, comecei lhe perguntando se era verdade que o mesmo blindado que ficou famoso no RJ com o nome de "Caveirão" havia sido rebatizado ai na Bahia de "Miseravão", bem ao estilo baiano de levar sempre a vida numa boa, porém, sem deixá-la de levar a sério. É como diz a frase atribuida ao Tchê Guevara: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás."


Se for verdade que o rebatismo do “Caveirão” para “Miseravão” tem haver com este que é o nosso espírito de baiano, vou então começar novamente falando do "Miseravão", para sugerir que sigamos nesta mesma nova linha e não só seja mudado o nome, deixando-o mais divertido, sem deixar de impor o respeito desejado, da mesma forma que o fazemos quando apelidamos os nossos MELHORES professores na escola e na faculdade com esta mesma alcunha por mera rotulação quanto a dureza com a qual nos chama à nossa própria responsabilidade, para só depois descobrirmos qual foi o real valor deles, após nos formarmos. Sendo assim, vamos mudar também a insígnia, mantendo-a no mesmo espírito do “Miseravão”. Vou propor aqui a minha sugestão de usar a que está ilustrando este post aqui no Blog. Afinal, é como questiona o personagem de Tropa de Elite II, com relação a caveira do BOPE do RJ: "Uma polícia cujo símbolo é a morte?"


Entretanto, na realidade te escrevi aqui [em família, por isto copiei sua conselheira mais próxima ai na Bahia e também a minha conselheira mais próxima aqui, que me pediu que não deixasse de "estar próximo" a você, seu "irmão mais velho"] para continuarmos a conversa que começamos ao telefone, quando você me falou da sua indignação quanto à, logo após ter colegas policiais mortos e outro na UTI por ação de criminosos, terem outro colega sendo processado por ter abordado aos palavrões alguém que ele reconheceu como sendo um daqueles delinqüentes que, apesar de ainda não ter ficha na polícia, vocês já sabem que andam aprontando. Estes aos quais vocês classificam como: "tiro surdo".


Quando nos despedimos ao telefone, fui honesto com você e comigo mesmo quanto a minha opinião a respeito da atitude deste seu colega e lhe disse que também faria o mesmo, se fosse o pai deste suposto "tiro surdo" - e é possível que este tivesse o mesmo nome de um de meus filhos, ou do teu e que e que aquele fosse um policial que atendesse pelo seu mesmo nome- e o abordassem de uma forma incompatível com a que merece ser abordado um "Cidadão Brasileiro", cujos direitos e deveres você aprendeu quais são, em seu curso preparatório da Academia de Polícia. Aliás, o que você e seus colegas são, antes mesmos de serem policiais.


Contudo, você pode fazer uma história de policial MUITO diferente desta, e diferente também daquela que te contei ao telefone em relação ao meu ex-colega de faculdade, cujo espírito brincalhão lhe disse que é muito parecido com o seu e que também se tornou um policial há alguns anos atrás, mas que, no entanto, foi se degenerando e acabou tendo que recomeçar de um ponto muito anterior ao que havia começado.


Pode ser também diferente desta história do seu colega que esta sendo processado por injúria, dentre outras ofensas que fez ao "tiro surdo", eu prefiro chama-lo de cidadão. Aliás, também este seu colega de farda pode escolher entre DUAS diferentes formas de utilizar esta experiência pela qual está passando: UMA delas só deixará em uma situação ainda pior no futuro, pois poderá ser um reincidente, se resolver descontar a revolta dele com este processo em outros "tiros surdos", o que também poderá levá-lo a ser expulso da PM e até vir amargar uma pena ainda mais severa. Neste caso, ele é que será pior do que os "tiros surdo", pois, se estes não têm sequer uma ficha na polícia, a dele poderá, além de existir, ainda ser uma FICHA SUJA, como classificam a alguns políticos em Brasília.



Você acha que o juiz que irá julgar a este seu colega deve inocentá-lo? Justamente porque seu colega não fez nada de mais além do que ofender alguém que ele sabia ser um DELIQUENTE??? Pois bem, se seu colega for assim inocentado, agora que ele também DELINQUIU, mesmo se não ficar com uma "ficha suja" na polícia, ele será o que você mesmo aprendeu ai com os seus colegas, ou seja, um TIRO SURDO. Não é verdade? Neste caso, se valer a regra de que delinqüentes (tiro surdos) pode ser humilhado com palavrões e agressões físicas, ainda que supostamente leves, será que o "tiro surdo" ao qual ele injuriou terá também terá o direito de fazer o mesmo ou pior com este seu colega, já que este é que terá a verdadeira FICHA SUJA???



Meu irmão, não quero aqui ficar dando lição de moral a você e nem a ninguém, ao contrário, quero é fazer aqui minha própria MEA CULPA: "Pequei Senhor, mais aprendi com o meu erro e quero ser perdoado." Pois, pelo que você mesmo me definiu como sendo um "tiro surdo", acabo de descobrir que, provavelmente, aos 42 de idade eu mesmo não escaparia de alguma delinqüência de minha parte que não pudesse me fazer merecer ser também classificado do que vocês chamam de "tiro surdos", pois, penso que certos atos praticados ainda na adolescência, ainda que muitos o perdoassem por considerar que tem haver com a história de todo menino de origem humilde, filho de pais pobres mais muito honrados, poderiam também me classificar como um: “tiro surdo”.



Entretanto, meu irmão, Deus nos deu o livre arbítrio justamente para sabermos que temos escolha, mesmo já tendo “pecado”, ou melhor, mesmo sendo um "tiro surdo", o Senhor nos ensinou que são os pecadores justamente os que precisam mais do Seu perdão [leia a parábola do 'Filho Pródigo' no Evangelho (Lucas 15, 11-32). Aliás, por falar em Evangelho, tem outra citação bíblica que é mais conhecida e que é atribuída ao próprio Jesus, quando todos estavam prontos para apedrejar a Maria Madalena, que diz mais ou menos assim: "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra".


Voltando ao caso deste seu colega, esta experiência poderá também servir para ele refletir sobre as RAZÕES que o levaram até este momento e, daqui por diante, terá o direito que foi concedido a ele divinamente, o do "livre arbítrio" e, assim como você também meu irmão, poderá escolher como tratar o próximo "tiro surdo", por mais delinqüente que for, como o seu colega o tratou antes ou, da mesma forma que faria um pai com o seu filho também delinqüente [como lhe perguntei quanto ao seu tratamento com o seu filho, após ter aprontado horrores].

Por detrás destes "próximos tiros-surdos", que também atendem por nomes iguais aos de nossos próprios filhos, existem pais iguais a nós que, mesmo tendo sido ou não "tiros surdos da vida", mas, sendo hoje pais de famílias honrados e não concordando que seus filhos cometam os mesmos erros que eles cometeram na juventude, querem que estes seus filhos sejam tratados com o respeito que merece CADA SER HUMANO quanto a sua própria dignidade pessoal e que, ainda merecendo uma "pena", após paga sua penitência seus "pecados sejam perdoados” e que eles possam ter a mesma chance que seus pais tiveram, de tornarem-se os homens dignos como hoje são vistos muitos dos antigos "tiros surdos". Não é verdade, irmão?



Aliás, sabe este meu ex-colega de faculdade, o que formou-se comigo e logo depois tornou-se também policial, mas que acabou sendo expulso e preso por ter cometido um crime capital? Pois é, ele teve muito tempo para refletir sobre as razões que o levaram até aquele momento na cadeia. E sabe o que ele decidiu, após dissipar toda a raiva, angústia, revolta e tudo o mais de ruim que ele pudesse ter no coração? Decidiu aproveitar o que ele mais tinha de sobra naquele momento, TEMPO, e dedicou-se aos estudos de Veterinária que ele já vinha cursando antes de ser preso e também aos de Medicina, de forma mais ampla, pois, como te disse, ele já era craque em Biologia desde os tempos que estudávamos juntos outro curso.



Disse também a você no telefone que fazia tempos que não tinha notícia deste meu ex-colega de faculdade, de quem eu gostava muito como pessoa e isto não mudou após ele ter cometido o "pecado dele". Mas, se não me engano, ele já se formou também em Veterinária pela Federal da Bahia, que era o sonho da juventude dele. Pois é, sabe o que eu acho mesmo??? Que a esta altura, ele já salvou MUITO mais vidas do que “aquela” que ele concorreu para tirar, desde aquele fatídico dia que mudou a vida dele, PARA SEMPRE! Mas, é como diziam os nossos pais, lembra? “Deus escreve certo por linhas tortas!”


Contudo, quero repetir para você também um pensamento que tenho repetido milhares de vezes a outros interlocutores e que a minha memória insiste em atribuir a um poeta espanhol: “Tenho que aprender TAMBÉM com o erro dos outros, mesmo porque, não viveria tempo suficiente para cometê-los [EU MESMO] todos, sozinho.”
Moral da história??? Quero ser reconhecido como o irmão do PM baiano mais educado do Brasil, nas abordagens aos CIDADÃOS baianos, mas que também, nem por isto, deixará de ser reconhecido como um policial eficiente, a exemplo do policial inglês, que nem arma letal utiliza no policiamento ostensivo.
Esta escolha só depende DE VOCÊ meu irmãozinho, é o seu LIVRE ARBÍTRIO, um DIREITO DIVINO, mais do que Direito Positivo, que é aquele escrito pelos homens . Aliás, também lhe falei a respeito das "más influências" que existem em todos os meios nos quais vivemos [olha eu aqui em Brasília, afff Maria!!!]. Porque então não ser VOCÊ a BOA?!? Mas, não como a Juliana Paes e a ANTARCTICA. Claro! (risos). Pois, ia pegar muito mal pra eu ser reconhecido como o irmão do PM baiano que é a alegria na caserna do batalhão inteiro. Estou me referindo a ser a BOA INFLUÊNCIA, a começar ajudando a este seu colega de farda que esta sendo processado por injúria, se este lhe for acessível, é claro, a escolher um caminho que tenha mais garantias de um FINAL FELIZ para ele.
Quem sabe você não poderia começar falando a respeito desta nossa conversa, aqui. O que acha? Mas, vai com cuidado e seja discreto, pois, você é ainda um calouro ai e as grandes mudanças não acontecem da noite para o dia, nem mesmo na sua cabeça e tampouco na dele, nem na de ninguém. Ok? Deus te abençoe em sua nova jornada e... Keep walking!"

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Da cidadania e da acessibilidade

Tenho reiteradamente discutido sobre a cidadania aqui neste Blog mais com ênfase nos DEVERES do cidadão para consigo mesmo e para com os seus concidadãos, do que em relação aos seus DIREITOS. Isto por que, se observado o nosso cotidiano, iremos constatar que o desrespeito aos nossos DIREITOS está intimamente ligado a inobservância dos DEVERES para com nós mesmos, cidadãos.
Portanto, neste artigo, a nossa proposta é chamar a atenção e dar um exemplo positivo do como podemos zelar mutuamente pelos nossos próprios direitos, a partir do exercício de nossos próprios deveres, como certamente queria nos chamar a atenção o famoso poeta Fernando Pessoa, quando proferiu este pensamento:
“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio têm qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”.
Uma renovada experiência, de ser pai pela segunda vez, chamou-me a atenção para um aspecto do nosso cotidiano que literalmente “passamos por cima” todos os dias sem que, sequer, ele nos chame a atenção para algo que afronta diretamente um dos direitos universais do ser cidadão, que é o direito de ir e vir. Pois, intrinsecamente está ligado a este direito algo que só se tornou mais comum “aos nossos ouvidos” muito recentemente e ficou conhecido como "acessibilidade".
Ainda que este seja um tema cuja atenção é recente em nossa sociedade brasileira, por isso mesmo há de se ressaltar que, a experiência de sensibilização que irei lhes relatar a seguir, aconteceu mesmo morando em uma das mais jovens cidades do DF, a cidade satélite de Águas Claras. Foi neste último ano e meio no qual tenho precisado utilizar o carrinho de bebê para deslocar-me em trajetos curtos com o meu filho caçula e, na vizinhança da cidade onde moro, mesmo assim passei a “sentir na pele” este que é um dos principais problemas enfrentados pelos cadeirantes e, de forma mais ampla, por todos os portadores de necessidades especiais cujo número, somente aqui no DF, chega a cerca de 170 mil habitantes, conforme me informou recentemente a amiga e colega Bárbara Barbosa, cujo trabalho voluntário é voltado principalmente para os deficientes auditivos aqui no Distrito Federal.
A inexistência de calçadas em muitos trechos de nossa cidade ou, quando existentes, calçadas irregulares ou mesmo cheias de buracos são verdadeiras armadilhas para todos nós e para qualquer cidadão, seja ele portador ou não de necessidades especiais. Isto sem contar a ausência das rampas entre o nível das calçadas e nível das ruas e avenidas que dificultam o acesso principalmente aos cadeirantes.
Entretanto, como foi dito acima, tal "insensibilidade" não diz respeito, apenas, às nossas autoridades públicas e às construtoras, mas também e, principalmente, a nós mesmos, cidadãos que não exigimos tais equipamento públicos diretamente dos nossos "fornecedores" desde o momento nos quais adquirimos os nossos imóveis e continuamos a não fazê-lo em relação aos nossos síndicos e administradores.
Diria que esta questão da acessibilidade é uma das provas de inequívoca insensibilidade quanto a uma das questões básicas que afetam ao cidadão, principalmente daqueles que são portadores de necessidades especiais, pois, se não temos estas que afetam a capacidade de locomoção do indivíduo, ou tampouco convivemos com pessoas que as tem, então, sequer conseguimos observar a baixa acessibilidade em nossas cidades nas quais vivemos e, se não somos sensíveis, também não cumprimos o nosso dever de AGIR a este respeito.
Comecei aqui ressaltando que este Blog se propõe a debater mais os DEVERES e é neste sentido que proponho AGIRMOS. Pois, se não houver ação do cidadão quanto à acessibilidade em nossos condomínios e nossas cidades, também continuarão insensíveis os nossos síndicos e administradores, pois, estes são apenas reflexos da qualidade da nossa cidadania.
Agir? Sim, conforme recomendou o Fernando Pessoa. Lhes darei aqui um bom exemplo próximo a este tema de como e de que vale à pena ter uma ”atitude Fernando Pessoa” como a da Bárbara Barbosa, citada acima, quando ela pleiteou a toda poderosa produtora americana Fox Filmes que incluísse nas cópias do um filme brasileiro intitulado: “Nosso Lar”, que já se mostra o mais novo sucesso de bilheteria do país, legendas em português para que os deficientes auditivos também possam assisti-lo no cinemas. A Bárbara BArbosa também mobilizou e incitou os seus concidadãos a escreverem para a Fox, reforçando seu pedido. Resultado? A Bárbara recebeu uma resposta positiva do representante da Fox Filmes aqui no Brasil e uma cópia editada com o apoio do grupo de apoio a deficientes ao qual a Bárbara faz parte já esta em exbibição na grande SP e em breve também será exibido emoutras cidades do país nas quais os movimentos sociais se mobilizarem, como já aconteceu também no DF.
Entretanto, se perderá “a pedra fundamental do castelo” que a Bárbara Barbosa está se mobilizando para edificar aqui no DF se ela não conseguir ajuda multiplicando a informação sobre as sessões especiais legendadas em português do filme Nosso Lar, que a Fox Filmes estará exibindo, em breve, também na Capital Federal. Todos nós podemos contribuir com oesforço da Bárbara Barbosa multiplicando esta corrente principalmente, mas não somente, junto aos portadores de deficiência auditiva e seus familiares, pois, assim eles poderão dar a audiência esperada pela Fox e, assim, poderemos tornar uma rotina a existência de cópias des filmes que estejam também atentos para esta "necessidade social". E então?!? Que tal exercitar o nosso AGIR e também aprender com a Bárbara ajudando-a? Vamos lá?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Da cidadania e do voto

Peter Drucker, notório "pensador" americano no campo da Administração moderna, "profetizou" ainda nos anos 60 que a nossa sociedade atual seria conhecida como a "Sociedade do Conhecimento", dado a crescente evolução dos meios de comunicação que facilitaria, cada vez mais, o acesso das pessoas às informações e estas, ao detê-la, seriam tanto mais poderosas quanto mais conhecimento detivessem.
Portanto, na Sociedade do Conhecimento conforme concebida por Peter Drucker, o poder - e as conseqüências que dela advém - se daria pelo acesso ao conhecimento, possibilitando às pessoas o poder de agir em prol de seus próprios interesses.
É mandatório notar que tal "profecia" de Drucker, se hoje já não parece tanto com um prenúncio dado a naturalidade atual com a qual encaramos isto, se deu a cerca de 40 anos atrás em um momento no qual ainda se vivia outro momento no qual, inclusive, a própria Administração, enquanto área de conhecimento, era dominada mais pelos ditos "especialistas", do que pelos profissionais de formação generalista de atualmente.
Isto se deu porque naquela época ainda era recente o advento da II Guerra Mundial no qual, por uma questão LITERALMENTE de vida ou morte, a "especialização" como a conhecemos hoje floresceu em função da necessidade de transformar os soldados, até então meros combatentes portando armas convencionais, em especialistas reunidos em batalhões “armados” de uma especialização em combate na qual os seus conhecimentos sobre um tema em particular eram as verdadeiras armas, e estas é que fariam a diferença no resultado de final cada batalha. Pois, aquela foi uma das guerras na qual a estratégia teve o seu lugar de honra, sendo o principal fator de decisão do combate e, por conseqüência, sendo também imprescindível que os soldados fossem treinados nas táticas às quais eles se tornariam verdadeiros especialistas.
Como a maioria das pessoas sabem atualmente, o grande boom da indústria americana no pós-guerra adveio justamente dos conhecimentos, das tecnologias e, por conseqüência, dos produtos criados para atender as exigências dos campos de batalha da II Guerra Mundial que, passada esta, tornaram-se parte de nosso cotidiano por intermédio das máquinas, dos equipamentos utilizados na indústria e até mesmo, ou principalmente, dos produtos de uso e consumo doméstico da nossa sociedade contemporânea.
Foi também neste ambiente do pós-guerra que os especialistas ganharam a notoriedade na sociedade contemporânea, principalmente inspirados nos americanos que transformaram-se no modelo de sociedade por excelência. Os engenheiros, também especialistas por excelência, aprofundaram-se ainda mais em áreas específicas de sua própria formação e os médicos, até então Clínicos Gerais que conheciam e examinavam seus pacientes como um ser humano completo e não apenas como uma parte de seu próprio corpo, passaram a ser vistos como profissionais de segunda categoria, quando confrontados com os seus colegas especialistas que se dedicavam a apenas a uma das múltiplas partes do corpo humano, aplicando o cartesianismo de uma forma que nem o próprio Descartes poderia ter imaginado.
Deste modelo “especialista” derivaram os diagnósticos que nos transformaram em verdadeiros Franksteins, visto que os males já não eram vistos como um mal a afetar o corpo humano como um todo e sim como uma disfunção de apenas uma de suas partes. Portanto, os pacientes passaram a ser analisados unicamente a partir do ponto de vista do "especialista", no qual cada um das partes é vista a partir de si mesma e não como part de um sistema - complexo e integrado – no qual o mal que afeta um membro torna doente todo o sistema. Neste modelo “especialista”, os nossos os médicos tornaram-se verdadeiros "engenheiros do corpo humano".
Ressalvados os benefícios advindos do conhecimento mais profundos obtidos por estes "médicos-engenheiros" a respeito do funcionamento de cada uma das partes do nosso corpo, um dos grandes problemas desta especialização é o fato de que o ser humano não é uma máquina - ao menos, não como a imaginaria um engenheiro ou um médico-especialista - como muito bem nos chamou atenção o fabuloso Charles Chaplin em seu clássico filme intitulado, em português: "Tempos Modernos", ou ainda em seu outro filme “O grande ditador” no qual ficou notabilizada a famosa frase: "Não sois máquina! Homens é o que sois!".
Bem, e aonde nos leva toda esta digressão a respeito do tema central deste artigo intitulado "Da cidadania e do voto”. E o que tem haver este com a abordagem inicial a respeito da Sociedade do Conhecimento de Peter Drucker? A questão é que neste momento no qual nos preparamos para exercitar a maior expressão da cidadania, exercendo um direito que na realidade é também um dever do cidadão, como tudo a que a ele diz respeito, temos então que refletir sobre esta questão da "especialização" também do ponto de vista da análise das informações que nos chegam e que balizam as nossas escolhas neste momento tão solene. Principalmente quanto a aceitamos a idéia cartesiana de que a necrose de um membro não afeta o sistema corpóreo como um todo e que, assim sendo, a cabeça não coaduna com o corpo.
Se vivemos hoje nesta Sociedade do Conhecimento, como a definiu Peter Drucker, e o acesso às informações nos permite exercer de forma cada vez mais consciente o "poder de nossa escolha". Então, enquanto cidadãos de uma sociedade que se vê como democrática, não devemos ignorar o que temiam os próprios atenienses, berço no qual foi fecundada e fundada o que conhecemos hoje como Democracia enquanto sistema político de decisão, quando eles condenavam ao ostracismo¹ àqueles cujo poder da "personalidade" tendia a tornar-se maior do que o poder do próprio povo, ao contrário de alçá-los à condição de “guia”. Pois, os atenienses já tinham em mente a experiência anterior vivida com Pisístrado e por isso temiam que os efeitos de tal popularismo degenerassem o sistema que eles mesmos haviam criado, como já havia acontecido no alvorecer da democracia de Atenas.
Portanto, em um regime verdadeiramente democrático no qual a lei deve imperar de acordo com o espírito no qual a mesma foi pensada e criada pelo legislador, na qualidade de representante do povo, devemos refletir lembrando-se das palavras daquele que é tido como a fonte do Direito ocidental, Montesquieu, quando este afirmou: "Em um tempo de ignorância, não se duvida nunca, mesmo quando se pratica os maiores males; num tempo de luzes, treme-se [mesmo] quando se pratica os maiores bens".

¹OSTRACISMO: em sua origem grega designa o ato no qual os atenienses votavam pelo exílio por 10 anos para aqueles cuja popularidade eles entendiam que era uma ameaça à própria democracia na forma que eles próprios haviam concebido.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Da Imprensa e da cidadania


Tenho observado há algum tempo que mesmo veículos de comunicação de grande reputação internacional tem se prestado a veicular texto que se confundem com peças que carecem da imparcialidade que se espera de um texto jornalístico. Não seria surpresa que isto tenha haver com a necessidade que cada vez mais comum que tem todas as grandes organizações de atenderem aos resultados econômicos desejados pelos seus acionistas.
Entretanto, o grande problema é que veículos que construíram reputações que os tornaram verdadeiras “instituições”, cujo discurso beneficia-se da legitimidade emprestada por tal condição e, no caso em particular de “instituições” que são quase como um oráculo do capitalismo, análises como estas tendem a legitimar-se ainda que as afirmações contidas nelas, como a que foi recentemente publicada sob o título “Welcome to the Latin American decade”, não se sustentam a um simples questionamento e vão, despudoradamente, de encontro ao que as mais simples das técnicas de análises Macroeconômica recomendariam que não fosse deixado de observar.


Some-se aos problemas expostos acima a fragilidade de nossa cidadania, ainda persistente, quando tomamos como “verdade absoluta” as informações que recebemos por intermédio de grandes veículos da comunicação nacional e internacional, apenas pelo fato de serem estas veiculadas por tais fontes.
Continuamos sendo muito provincianos. É por isso que em minha breve experiência como docente na academia, na qual costumava levar para a sala de aula os artigos de prestigiados veículos de imprensa nacional com o objetivo de propor uma análise crítica e mais detida sobre eles, a minha primeira recomendação, ou 1ª lição se assim o preferirem, era para que os alunos nunca iniciassem uma leitura como esta sem antes observarem as credenciais do autor, que se convencionou a ser sinalizada por um asterisco logo após o nome do mesmo e que, por sua vez, remete ao pé de página no qual as informações sobre o autor são dadas e cuja importância é crucial para que o próprio leitor “ponha as barbas de molho” antes de formar seu próprio juízo de valor, sobre qualquer tema, com base no que foi escrito por qualquer que seja a fonte, por mais reputada que seja.
Estou escrevendo um artigo que já intitulei: “Das nossas bolhas e das bolhas dos outros” no qual proponho uma visão mais, digamos, panorâmica no sentido que não olharmos nem para esquerda, nem para a direita ou mesmo para o centro e sim observarmos a paisagem como um todo, assim como o fazemos na natureza com o movimento das nuvens, com a mudança de direção dos ventos, com o comportamento dos pássaros e de todos os outros animais, tomando-os como os sinais de uma tempestade que vem se aproximando, ainda que o céu sobre as nossas cabeças permaneça sendo um “CEU DE BRIGADEIRO”.
Para subsidiar melhor as análises para este novo artigo e, por conseqüência, o próprio artigo, estou lendo o mais recente livro do Nouriel Roubini intitulado, no original em inglês, de: “A Crash Course in the Future of Finance”. Ainda ontem, véspera do dia no qual escrevi este artigo, fui dormir às 1h da manhã fazendo, de próprio punho, o fichamento das informações que venho colhendo neste livro. Porém, enquanto não termino isto, espero que artigos como este cujo título é citado acima e outros em contraposição de publicações nacionais de boa reputação que também tenho lido recentemente e guardado com este mesmo propósito de ter esta “visão panorâmica” do movimento das nuvens, da mudança de direção dos ventos, do comportamento dos pássaros e de todos os animais, conforme propus acima e tenho também exercitado em conversas informais com os meus interlocutores mais próximos.
Não obstante tudo isto, além de observar os sinais quanto à possível mudança do tempo, já estou também construindo o meu próprio “abrigo financeiro” para enfrentar a eventual tempestade econômica que se avizinha como também recomenda a boa prudência. É como diz o velho ditado: “Prudência de canja de galinha não fazem mal a ninguém”. Pelo sim, pelo não, este é sempre o melhor caminho, estar preparado para continuar voando mesmo quando o “CEU DE BRIGADEIRO” já dá sinais de mudança.